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2011-2012

Em alguma parte, em algum lugar indefinido ou esquecido, a ordem entrou em colapso em cadeias de associações irracionais, lá encontramos dois corpos mergulhados no abismo do caos, separando o movimento do tempo.

No novo espetáculo da QUARTO, Leandro Zappala e Anna af Sillén de Mesquita refletem sobre esperança, liberdade e utopia. O que perdemos? Tais perdas são tangíveis, ideológicas, políticas? O que nos coloca em movimento e o que faremos agora? É possível, para cada um de nós, produzir a sua própria liberdade? Quebrar hábitos? Mergulhar em outras dimensões do tempo? Criar linhas que formas da sensibilidade nunca poderão alcançar? Que lugar é esse? Uma experiência no tempo? Um lugar indefinido, impregnado de Fé e Perdas. Dois corpos encontram-se aí, profundamente envolvidos.

Diretor artístico e texto: Leandro Zappala
Coreografia: Anna af Sillen de Mesquita
Performers, idéia e conceito: Anna af Sillen de Mesquita e Leandro Zappala
Designer de som: Lucas Marcier
Designer de luz: Tobias Hallgren
Figurinos e cenografia: Anna af Sillen de Mesquita
Vídeo: Palle Lindqvist
Assistente de dramaturgia: Denise Milfont
Imprensa e Divulgação: Lena Uhlander e Titti Grahl
Assistente de produção: Mariana Gomes My Suikkanen
Filósofa e mediadora: Fredrika Spindler
Poeta e mediadora: Naima Chahboun
Sociólogo cultural e mediador: Lars-Göran Karlsson
Coprodução: SITE (Production Centre for Performing Arts), Teatro Giljotin, JUNTO e MADE Festival
Design gráfico & produção: QUARTO
Patrocínio: The Swedish Arts Council, Stockholm’s, Culture Committee e The Swedish Arts Grants Committee

Trecho do texto escrito por Fredrika Spindler sobre e a partir da performance BEAUTY of DESPAIR. Filósofa, teve como orientador de seu mestrado o filósofo Gilles Deleuze, professora de filosofia na University College Södertörn.

Para Espinosa, o mundo, ou a natureza, é constituído de um todo infinitamente complexo onde, em cada criatura, ou coisa, se expressa um certo grau de força, uma força que está em constante interação com todas as outras forças circundantes. É um todo onde tudo é um, mas ao mesmo tempo infinitamente diferenciados, em perpétuo movimento, nas relações constantes de composição e decomposição. É também um mundo onde não há modelos morais ou tons acima, mas a questão é um pouco sobre como e de que forma, as diferentes forças interagem uma com as outras, como se fortalecem ou enfraquecem uma a outra, como elas parecem criativas ou destrutivas. A interação entre as forças é o que está no centro: em outras palavras, tudo se resume à questão de como as forças – Nós todos, os seres humanos e tudo o mais combinado: como nós afetamos uns aos outros, constantemente, de forma consciente, inconsciente, intencionalmente, ou sem querer e, nesse afeto, conjuntamente e constantemente a existência assume ou vem a tomar novas formas, cria identidades, eleva-se a novas constelações.

Assim sendo, na minha opinião, não é difícil ver como este trabalho da QUARTO nos mostra tamanha afetividade ou jogos de forças: como tudo o que vem à existência dissolve-se tornando-se diferentes formações de forças. Inseparavelmente, ligadas e idênticas, incessantemente dilacerantes, diferenciando, transformando. Em outras palavras, pode-se falar em termos de uma afetividade flutuante que mostra como todas as emoções e humores são ofegantes juntos, quase imperceptivelmente mudam de um para o outro: o amor está próximo do ódio, o prazer próximo à dor, a alegria se eleva na medida em que torna-se insuportável e se transforma em tristeza: é apenas uma questão de contexto, composição e as sutis diferenças de grau. Talvez seja isso que temos visto – ou, pelo menos, esta é uma das entradas que Beauty of Despair levanta.

Trecho do texto escrito por Naima Chahboun sobre e a partir da performance BEAUTY of DESPAIR. Naima é poeta e professora doutoranda em ciência política na Universidade de Estocolmo.

O que os vegetais tem a ver com isso? Vegetais não comem pílulas. Vegetais não fumam cigarros. Vegetais não usam perucas. Eles não usam métodos artificiais para controlar suas emoções e não se escondem atrás de atributos simbólicos. Isso faz com que os legumes sejam os elementos mais autênticos na peça, se não fosse pelo fato de que os vegetais não sentem dor, a dor que eu sinto quando a cenoura e o alho poró são perfurados com palitos de dente, esta é um reflexo da minha própria dor. Que não é transmitida a mim através dos sentimentos, expressões ou experiências de outras pessoas. Não tem nada a ver com empatia, compaixão ou solidariedade. Os vegetais são como uma projeção superficial, um lençol branco. Verde é a cor da liberdade.

O que tem a beleza e o desespero a ver com tudo isso? A beleza é uma forma de ordem, padrão e harmonia. Os gregos encontraram as proporções divinas na seção áurea. Pesquisas recentes mostram que a maneira mais importante para percebermos um rosto bonito é através da sua simetria. Desespero, por outro lado, rompe padrões, esmaga a harmonia e cria o caos e a desordem. Se Hobbes encontrou a liberdade na regularidade da beleza, Arendt a encontrou em um comportamento imprevisível no desespero. Quando Mohammed Buoazizi encharcou-se com gasolina deixando-se queimar até a morte no dia 17 de Dezembro do ano passado, foi em um ato desesperado, que teve conseqüências inesperadas. Uma onda de protestos espalharam-se para além das fronteiras do Estado, os gritos de liberdade ecoaram, regimes tirânicos foram expulsos do poder, a guerra eclodiu. A causa de seu desespero era o fato de que funcionários do governo o assediaram, cuspiram nele, bateram e tiraram-lhe o seu carrinho e o seu registro, com o qual ele fazia seu comércio e girava dinheiro para sua família. Ele vendia verduras.

Sobre o que estávamos falando?

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